domingo, outubro 01, 2006

O Flex, o Pato e o Meio Ambiente

Logo após a chegada dos primeiros flex no mercado, o presidente da Citroën fez uma comparação com o sistema flex ao pato. Para ele, o pato nada, anda e voa, mas têm desempenho medíocre nas três funções.

A explicação técnica é bem simples para isso: a eletrônica pode suavizar as diferenças dos dois combustíveis, mas não resolve a questão física, já que álcool e gasolina exigem uma formulação mecânica (taxa de compressão) distinta para que o motor tenha máximo desempenho ao funcionar com um ou outro.

E, agora, com a chegada de novos flex ao mercado, isto se torna mais evidente. A Honda, ao anunciar os motores dos novos Fit e Civic Flex, deixou claro que manteve a baixa compressão do motor a gasolina. Ou seja, a tendência é ser mais eficiente, consumindo pouco e mantendo o bom desempenho com esse combustível derivado do petróleo. Já com o álcool, o veículo não tende a ter a mesma eficiência que teria se usasse uma taxa de compressão maior.

A GM fez o mesmo que a Honda com o Vectra 2.4 – utilizando uma baixa taxa de compressão. Já nas versões 2.0 da linha desta montadora, a taxa de compressão é bem elevada, o que acaba favorecendo o rendimento com álcool. Seja em desempenho, seja em consumo.

Existem motores que adotam taxa de compressão variável, mas apresentam um elevado custo de produção, ainda.

Por conta disso, as montadoras realmente se encontram numa saia justa, já que não é em todo o país que o álcool é compensador, ao menos financeiramente, para o consumidor. Nas regiões onde há poucas distribuidoras, normalmente afastadas das zonas de produção, a tendência é que o álcool não valha a pena (veja no site da ANP a diferença entre as regiões). Já nos grandes centros e nas proximidades das zonas produtoras do produto, a situação se inverte com os preços mais atraentes para o combustível renovável.

Qual taxa de compressão utilizar: favorecer qual combustível?

Ao nosso ver, as montadoras devem favorecer o álcool. Utilizar taxas de compressão elevadas para os novos modelos flexíveis. Principalmente pelas vantagens ambientais. Somente o álcool têm balanço de carbono zero (não impacta o Efeito Estufa), não contém enxofre e reduz as emissões brutas de poluentes. Além disso, a cana-de-acucar, ao ser produzida, ainda ajuda no resgate do CO2 emitido por outros motores (quando a produção não invade as áreas florestais, cuja capacidade para isto é muito superior).

Se não bastasse a vantagem ambiental, ele tem alta octanagem e permite melhor desempenho que a gasolina.

O que seria impensável há alguns anos, já está acontecendo. Hoje já está mais comum encontrar notícias de lançamentos de carros bicombustiveis nos noticiários internacionais, do que no nosso mercado, "pai" da tecnologia. Na França será obrigatório o uso de álcool, assim como no Brasil. No mercado norte-americano, onde o Civic flex será primeiramente lançado, os estudos também estão muito avançados. E a grande motivação é ambiental.

Há petróleo suficiente para mais de 100 anos, mas não meio ambiente habitável que suporte mais um século de queima.

Apesar do sucesso do flex estar sendo erguido na liberdade de escolha dos combustíveis, e a certeza da economia, já está mais do que na hora das montadoras e consumidores pararem de pensar no próprio bolso e se preocuparem com o meio ambiente.

Sobre os novos Fit e Civic Flex

O Flex da Honda permite ao motor alimentação com 100% de álcool, 100% de gasolina pura ou a mistura de ambos, em qualquer proporção. A tecnologia chega primeiramente nos Estados Unidos, até o final deste ano, no sedã Civic e no compacto Fit. No primeiro, o propulsor 1.8 rende 140 cavalos e 17,7 kgfm com álcool. Com gasolina, a potência desce para 138 cv e o torque para 17,5 kgfm. Já o motor 1.4 do Fit, utilizando etanol, rende 83 cv e 12,1 kgfm.

A Honda ainda não se pronunciou sobre a venda destes modelos no Brasil, mas estima-se que será muito em breve - no máximo até o primeiro trimestre do próximo ano. A novidade será um segundo bocal de combustível no pára-lamas dianteiro direito para abastecer o pequeno reservatório de partida à frio, pela primeira vez num Flex. Ainda não será desta vez que o sistema de bicos injetores que aquecem o alcool dará as caras, mas ao menos o consumidor terá a comodidade e segurança ao abastecer o reservatório.

Texto: Guilherme Lopes

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