sábado, abril 29, 2006

New Civic: Revolução à vista

New Civic, aqui na versão LXS: Aposta ousada da Honda para balançar o segmento dos sedãs médios

Começam, nesta semana, a chegar às concesssionárias Honda de todo o país, as primeiras unidades do New Civic, um dos lançamentos mais aguardados do ano. Face à grande expectativa pelo modelo, O AutoDiário, ainda buscando seu lugar ao sol no grande circuito da imprensa automotiva, compareceu a uma dessas concessionárias, na condição de simples mortal, para conferir.

O choque de realidade é grande: a terceira geração do Civic nacional (oitava mundial) chega bem armada e coloca a concorrência em alerta, pois oferece um impressionante pacote de design, conforto, desempenho e tecnologia... e tudo a um preço compatível com a realidade do segmento, que deve experimentar encalhes de alguns modelos nos próximos meses.

A primeira impressão que se tem do carro, em comparação com a geração anterior (presença ainda numerosa nos pátios e show-rooms, diga-se de passagem) é que a Honda busca ampliar o público de seu sedã médio, já que a sensação de esportividade no novo modelo é latente, está em todos os detalhes, ao contrário de seu antecessor (se é que este um dia conseguiu passá-la a alguém). Assim, muita gente que nem pensaria em comprar o modelo anterior certamente considerará este, em especial o público mais jovem. Basicamente, o mesmo que a Honda fez ao surpreender o mundo lançando a 5ª. Geração em 1992, um modelo mais baixo (tanto externa quanto internamente, com posição de condução digna de modelos de competição) e de linhas fluidas que substituia o modelo anterior, quadrado e careta. Esta geração Logo cativou os jovens e possui até hoje uma legião de admiradores (não por acaso, foi presença constante em filmes como “Velozes e Furiosos” – quem não lembra da trinca de nervosos Civic pretos, pilotados pela quadrilha de Dominic Toretto?). Não será surpreendente se o mesmo acontecer com esta oitava geração.

Em linhas gerais, o perfil do New Civic se assemelha muito mais ao de um coupé, dado à suavidade com que o contorno da capota cai em direção ao porta-malas, deixando-o bastante curto. Este, aliás, pode parecer pequeno, com capacidade nominal de apenas 340 litros, mas o provável comprador verá que ele é capaz de acomodar, sim, a bagagem da família moderna, cujo tamanho só faz diminuir. Para amenizar o problema, bom seria a Honda ter adotado dobradiças pantográficas para suspender a tampa, como em alguns concorrentes, ao invés dos antiquados braços fixos, que roubam um espaço considerável e são tradicionais esmagadores de bagagens mais frágeis.

Porta-malas deixa a desejar em capacidade e apresenta os antiquados braços fixos

De perfil, o carro passa a sensação de ser bem mais baixo que o anterior do que realmente é (a diferença é de apenas 5mm, de acordo com dados da fábrica). Este efeito foi conseguido “alisando-se” a lateral, livrando-a de vincos e frisos e diminuindo a altura das janelas (elevando o “ombro” da carroceria, ao invés de baixar a capota, é bom lembrar). Nesse detalhe, notado principalmente a partir do interior, o New Civic lembra modelos que povoam os sonhos de todo entusiasta, como a fenomenal Mercedes-Benz CLS. A frente é bastante agressiva, com os faróis longos e afilados, e a “asa” cromada, conferindo um olhar “felino” ao modelo. Nota negativa fica para o formato oval dos faróis de neblina, em dissonância com a linha de design adotada para o carro: parecem acessórios, instalados na loja da esquina. Na traseira, embora tenha faltado inspiração no desenho um tanto “genérico” das lanternas, o formato côncavo é a atração, conferindo personalidade.

Faltou inspiração na traseira, mas o resultado, em sintonia com o conjunto, é bom

O interior reserva boas surpresas. Embora não seja um fenômeno em termos de espaço interno, oferece razoável conforto para quatro adultos (em especial na frente, onde motoristas de maior estatura encontrarão facilmente uma posição agradável de condução), em sintonia com o que ocorre na concorrência. Um quinto passageiro não viajará com tanto conforto atrás, mas terá a seu favor o benefício do assoalho traseiro plano.

Atrás, espaço apenas razoável (este colaborador, do alto dos seus 1,93m, não representa uma amostra muito confiável da média de altura da população).

O design do interior do carro é arrojado e cativante, o painel colorido em dois setores, lembrando a tela de um computador chega a ser hipnótico e provavelmente decidirá a compra para muita gente. Desde os tempos do Omega 3.0 e do Kadett GSi, o brasileiro mostra um certo fascínio por velocímetros digitais, luzes e barras coloridas. No New Civic, encontrará todos eles. O volante, perfeito em tamanho e empunhadura e muito bem desenhado, agrega, na versão “top” EXS, os comandos de rádio e cruise control e traz, também nesta versão, uma novidade: Troca de marchas estilo “paddle shift” com borboletas atrás do volante, recurso inédito no segmento e, a bem da verdade, só encontrado até agora em carros que custam pelo menos o dobro do preço do New Civic. Os materiais, se não chegam a se destacar em qualidade dos utilizados na concorrência, foram bem escolhidos. Os plásticos, em tons de cinza, têm textura agradável e são visualmente interessantes. O grande destaque, que acompanha a linha Civic já há algumas gerações, é a ergonomia: A colocação dos comandos foi muito bem resolvida e os painéis de controle do som (com boa fidelidade e MP3/WMA de série em todas as versões) e do ar condicionado (digital) são de fácil leitura e operação. A alavanca de câmbio automático é bem localizada e a manual tem ótima empunhadura e chega a “procurar” a mão do condutor, que pode fazer as trocas de marcha (com precisão e curso curto, como se costuma encontrar nos bons esportivos) com o antebraço confortavelmente colocado sobre o apoio de braço central. Pequenos detalhes, como os porta-trecos no console central, emborrachados e com tampas deslizantes ao estilo “persiana” são um show à parte. Em resumo: se alguém estiver em dúvida enquanto estiver fora do carro, certamente não hesitará em assinar o cheque ao assumir o volante.

O belo painel, aqui da versão "básica" LXS: design do interior deverá decidir a compra para muita gente.

E, por falar em cheque, vamos ao que todos querem saber: O New Civic é oferecido em duas versões de acabamento: LXS e EXS (há ainda a LX, destinada aos portadores de deficiência, vendida com o desconto pertinente), equipadas com o mesmo motor, uma evoulção do anterior 4 cilindros 1.7, agora com cilindrada aumentada para 1.8 e a já conhecida tecnologia do comando variável (VTEC), com 140cv de potência. Por enquanto, provavelmente por estratégia de marketing (face ao alto preço do álcool na bomba), movido somente a gasolina, embora a versão Flex, fontes seguras afirmam, esteja em fase final de desenvolvimento.

Por um New Civic LXS manual, básico, paga-se R$ 61.900,00 (preço fornecido pela concessionária, acima dos R$ 59.600,00 divulgados pela marca, teoricamente já com frete e pintura metálica inclusos). Por esse preço, o carro traz ar condicionado digital, direção hidráulica, trio elétrico, sistema de som com MP3/WMA, rodas de liga leve de 16 polegadas, airbag duplo e ABS com freios a disco nas quatro rodas, pacote de equipamentos de série que vai fazer a concorrência virar a noite em cima da tabela de preços. Só a título de comparação, por cerca de R$ 63.700,00, o Chevrolet Vectra Elegance não oferece sequer sistema de som, vem sem airbag, sem ABS e conta com modesto sistema de freio a tambor nas rodas traseiras. Equipar o Elegance como o Civic LXS básico exigirá do comprador cerca de R$ 72.000,00. Este levará para casa também o computador de bordo (não oferecido no Honda) e o motor flexível em combustível mas, convenhamos, nada que justifique os mais de R$ 10.000,00 de diferença, ainda mais se considerarmos que o Vectra traz o já longevo (apesar de robusto e confiável) motor família II 2.0, que, com 200cm³ a mais, ainda assim deve penar para bater as marcas de desempenho do moderno, leve e eficiente VTEC 1.8, e certamente apresentará marcas de consumo substancialmente superiores.

Ainda é possível equipar a versão LXS com câmbio automático, embora sem o já comentado “paddle shift” da versão topo de linha, elevando o preço em cerca de R$ 4.500,00. Revestimento interno em couro adicionará ainda cerca de R$ 1.500,00.

O EXS, em configuração única, adiciona bancos em couro, rodas 16” com desenho diferenciado, repetidores de seta nos retrovisores, revestimento interno na tampa do porta-malas (de utilidade questionável), faróis de neblina e o já citado “paddle shift” atrás do volante, o qual incorpora também comandos de som e “cruise control”. Vai parar na sua garagem por R$ 81.900,00, o que o coloca em pequena vantagem em relação ao Vectra Elite, que, equipado como o New Civic EXS, vai para perto de R$ 85.000,00. A disputa aqui é mais equilibrada que nas versões básicas, sendo o Chevrolet equipado com o mais respeitável motor família II flex 2.4 que, apesar dos 150cv e farta reserva de torque em todas as faixas de giro, tem um apetite voraz, digno de motor 6 cilindros, tanto pelo álcool quanto pela gasolina. É bom lembrar também que o Vectra Elite oferece como opcional o teto solar, equipamento que, apesar da pouca procura no país, tem seus adeptos, mas não consta do catálogo do Honda, nem mesmo como opcional. Vítima, provavelmente, da padronização das linhas de montagem visando a redução de custos e do tempo de montagem.


Painel da versão EXS, com os comandos de som e cruise control no volante e, atrás deste, as borboletas do sistema "paddle-shift" de troca de marchas: inédito no segmento e só encontrado em modelos de segmentos bem superiores.

O Civic EXS terá a vizinhança também do recém lançado Ford Fusion que, apesar da proposta diferente e teoricamente pertencer a uma categoria superior, deve deixar muita gente em dúvida, já que custará cerca de R$ 80.000,00 e oferecerá bem mais espaço interno e porta-malas substancialmente maior, além de contar com a vasta rede de concessionárias Ford pelo país. Quem valoriza estes quesitos, não deve deixar de olhar o Ford de perto. O moderno – e belo - VW Jetta, a ser importado do México ainda este ano, deve também ampliar as opções de quem cogitar adquirir o New Civic EXS. A propósito, a previsão de entrega das primeiras encomendas do modelo (só no dia em que comparecemos à concessionária, esta já havia anotado 15) é para o mês de Junho.

Para finalizar: A sorte (da concorrência) está lançada... Rival direta da Honda em todo o mundo, a Toyota deve acelerar o desenvolvimento e lançamento da nova geração do Corolla que, apesar de ter público fiel e continuar sendo uma excelente opção no segmento, envelheceu dez anos com a chegada do novo Honda. A Renault, Ah, a Renault... com o Mégane recém lançado e ainda não tendo decolado nas vendas, as previsões são as piores... apesar de ser um ótimo carro, com bons motores, design moderno e pacotes de equipamentos interessantes, o modelo da marca francesa certamente não terá fôlego para competir em vendas com o New Civic, cujo apelo emocional é enorme. Resta a ela contar com o público fiel da marca (que, com quase 15 anos de Brasil, começa a ter expressividade), reduzir ainda mais o preço da versão Expression 1.6 para a casa dos R$ 50 mil para tentar captar compradores entre os interessados nas versões top de linha de sedãs pequenos como Siena, Fiesta, Clio, Polo e Corsa, além de competir – com vantagem – com Astra e Focus, e oferecer também descontos gordos na versão Dynamique 1.6 que, apesar de bem equipada, está em franca desvantagem em termos de motor. Outra saída seria acelerar a chegada às concessionárias da versão Dynamique 2.0 16v e seu aguardado câmbio manual de seis marchas, que deve encontrar público entre aqueles buscando um pouco mais de esportividade ao dirigir, mas ainda assim uma maior agressividade na política de preços e estratégia de vendas é urgente (para toda a linha, aliás). Já a Chevrolet, na confortável (por enquanto) posição de líder do segmento, calcada na tradição da marca e no forte apelo emocional da nova geração do Vectra, também deve entrar em alerta: Sabe-se que uma versão Confort do sedã está a caminho. Seguindo a lógica da marca, esta deve muito provavelmente contar com revestimento interno mais simples, ar condicionado tradicional, rodas de 15” (possivelmente de aço, com calotas) entre outros itens a reduzir o preço do carro. Acreditamos que ela deva chegar na mesma faixa de preço do Mégane Expression, em torno de R$ 55 mil. Mas simplificar seria a solução? Teria um modelo com essas características condições de competir com o já completíssimo New Civic LXS básico? Quanto aos demais “concorrentes”, como Astra Sedan, Focus Sedan, Marea e Bora, Independente das (muitas) qualidades que apresentam, acabam de ser relegados a um novo sub-segmento de modelos que, se não são a última palavra em design, tecnologia, etc. certamente oferecem mais por menos. É possível que versões “top” destes modelos passem a ter gordos descontos nos próximos meses, o que pode interessar a muita gente (nós, do AutoDiário, certamente abriríamos sorrisos frente a um Focus Sedan Ghia 2.0 16v Duratec completo por, digamos, R$ 55 mil...).
(Colaborou: Régis Vasconcellos - Fotos)

P.S.: Como se não bastasse o carro ser excelente, o site da campanha de lançamento também é ótimo, merecendo uma visita:
http://www.newcivic.com.br/

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